Sombras do passado

     Num simples dia, num simples momento, consegui estragar tudo o que construí ao longo de tanto tempo, tudo o que construímos... Num simples momento de loucura, num simples momento sem sentido, consegui destruir aquilo que sempre quis, aquilo que me fazia sorrir, aquilo que me fazia FELIZ! Consegui com umas simples e rudes palavras destruir o meu sonho, o meu conto de fadas, o meu paraíso... 

     Num momento que nem a mim própria consigo explicar, deixei que as sombras do passado consumissem o meu pensamento e controlassem as minhas palavras. Essas sombras estão a tentar proteger-me de voltar a cair, voltar a cair nos mesmos erros, voltar a cair naquela desilusão, naquela tristeza... Nem me deram a possibilidade de provar que desta vez vai ser (ou pelo menos ia ser) diferente. Apareceram assim, de repente, bruscamente, sem avisar, e derrubaram tudo o que encontraram, derrubaram-te a ti, distorceram as minhas palavras e espezinharam o meu coração. Assim, sem sequer me darem uma chance, sem sequer me darem uma oportunidade de provar que as coisas desta vez são diferentes, que tenho de tentar ser feliz e que devo fazer o que realmente me faz feliz e lutar pelo que realmente AMO, lutar pelos meus sonhos, LUTAR POR TI!

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Um simples instante...

     E porque os momentos não se cronometram, um simples instante fez toda a diferença. Um simples abraço que uniu os nossos corações, um simples olhar que provocou um sorriso "bobo" em cada um de nós, uma simples música da qual nem me recordo que serviu de pretexto para nos aproximarmos, um simples gesto que demonstrou tudo o que sentíamos, um simples momento em que tudo mudou. Num simples instante tivemos coragem de demonstrar tudo aquilo que escondíamos. Num simples instante tivemos coragem para esquecer tudo o que nos rodeia e fazermos algo que realmente nos torna felizes.

     Ganhaste coragem e abraçaste-me como se o mundo fosse acabar nesse instante, como se fosse a última vez que me ias ver, protegendo-me como se eu fosse frágil, como se eu fosse preciosa, como se eu fosse só tua!

     Ninguém pode definir bem o que é um momento inexplicável, mas sei bem que este momento foi verdadeiramente inexplicável e inesquecível, e tu também sabes isso. Este momento só ensina que não podemos dar nada como certo... Aconteceu connosco a coisa mais improvável, da forma mais bonita possível.

     E de repente, este momento inesperado traz com ele uma felicidade que eu já não sentia há muito tempo, um sorriso que por mais que tente esconder, permanece no meu rosto sem querer fugir, ainda não me largou desde aquele momento, desde aquele abraço inesquecível.

     Nem tudo o que nos faz felizes vem com aviso prévio, com manual de instruções, com julgamento de certo ou errado... Ás vezes vem assim, sem aviso, sem sentido, sem justificação, sem ser possível explicar.

Perdida...

     Perdida. Completamente perdida. Assim, de repente, sem aviso, sem conselhos, sem dicas, sem qualquer direção... Perdida!
     A bússola já nem indica o norte, anda às voltas e voltas sem parar e, com ela, leva a minha cabeça nesse rodopio constante. Range de dor e de cansaço, a agulha só quer parar, parar de escolher caminhos, parar de definir direções, só quer parar aquele desafio constante de mostrar um caminho. E não pára! Nem se atreve a parar! Não se atreve a desenhar um destino, não se atreve a ajudar-me! Esta bússola é injusta, leva-me com ela nesta louca dança, neste louco e infinito rodopio e faz-me girar cada vez mais. Faz-me caminhar sem norte, sem direção, e por mais que eu ande, por mais que eu tente andar, acabo sempre aqui, neste mesmo sítio, neste velho quarto, nesta velha cadeira.

     E por mais que o tempo passe nada muda, estou numa máquina do tempo onde o tempo está congelado. Já não conseguimos ser nós a parar o tempo, porque este também segue a trajetória da bússola, volta sempre ao passado, e ao contrário desta, ele pára. Pára e fica parado, não tem vontade de avançar, fica a descansar no passado... A rir-se de mim! A vingar-se como se vinga a vida! Senta-se no passado e vê-me sofrer, na sua cara está um sorriso de satisfação, solta gargalhadas maléficas e ainda me olha com desprezo. É agora! Infelizmente, chegou a hora! Todos os meus inimigos se uniram contra mim, entraram-me nas veias, perfuraram-me o coração, mas só ao manipularem-me o pensamento é que conseguiram acabar com tudo o que sempre queriam...
     E assim me encontro, aqui, nesta sala velha, neste mundo velho, nesta memória antiga... Assim me encontro, perdida, nesta batalha quase esquecida...

Apenas por um momento...

     Sinto o teu cheiro. Sim, porque ao fim de tanto tempo ainda conheço tão bem o teu cheiro. Tenho a certeza que estás por perto! Sinto-me observada, um olhar está a tentar fisgar o meu. Eu sei que és tu! O olhar é tão forte que me leva na tua direção. Eu sabia que eras tu! Ainda não te olhei nos olhos, ainda não! Mas sei que vou olhar, sei que vou acabar por ceder... 

     
     Cedi! O teu olhar agora controla o meu. Hipnotizou-me, já não o consigo desviar! Já sabes tudo o que estou a passar e tudo o que sinto com apenas este simples olhar. Vais mais fundo, invades-me a alma, aceleras-me o coração. Controlas o meu pensamento, penso apenas em ti. Tomas conta de todo o meu ser... Sorris e fazes-me sorrir, preenches-me de uma felicidade confortável.

     E finalmente eu consigo desviar o olhar! Neste momento inteiro recordas-me de todo o nosso amor esquecido, do nosso amor perdido, do nosso amor condenado... 

E apenas por um momento inteiro, voltamos a viver o nosso amor ...